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Receita Federal aperta fiscalização sobre bancos

Operações “fora da normalidade” na área de câmbio e em provisões de crédito feitas pelos bancos impactaram negativamente o recolhimento por estimativa do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e de Contribuição Social sobre o Lucro Líqui

Operações “fora da normalidade” na área de câmbio e em provisões de crédito feitas pelos bancos impactaram negativamente o recolhimento por estimativa do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) neste ano e, por isso, foram alvo de ações de fiscalização por parte da Receita Federal nos últimos meses.

Esse aperto nos grandes contribuintes do setor financeiro, na visão do Fisco, já gerou impactos positivos no desempenho da tributação sobre o lucro nos últimos dois meses. Em setembro, por exemplo, o recolhimento de IRPJ e CSLL por estimativa mensal cresceu 10,7% ante igual período do ano passado (para R$ 7,3 bilhões), com o aumento sendo puxados pelas instituições financeiras, cuja expansão foi de 18,1% (para R$ 2,4 bilhões). O recolhimento das demais empresas cresceu a um ritmo menor – de 7,4% (para R$ 4,9 bilhões).

Apesar da melhora recente, a tributação sobre lucros por estimativa mensal segue no território negativo quando considerado o acumulado do ano, com queda de 1,8% na comparação com um ano antes (para R$ 72,4 bilhões). O setor financeiro é o grande responsável pelo desempenho ao registrar retração de 9,5% (para R$ 27,1 bilhões). Enquanto isso, as demais empresas computam aumento de 3,42% (para R$ 45,3 bilhões) na arrecadação federal.

Os dados das empresas financeiras chamam atenção principalmente em julho, quando o recolhimento por estimativa desses tributos no setor teve queda de 67,3% ante o mesmo mês de 2016. Foi nesse mês de queda mais pronunciada que o Fisco ampliou seu esforço de fiscalização e reforçou questionamentos ao setor financeiro.

Uma fonte da Receita reconhece que esse trabalho com contribuintes de maior porte, embora seja frequentemente realizado pelo órgão, de fato teve um componente extraordinário diante dos resultados atipicamente negativos da arrecadação.

A Receita não detalha quais seriam os problemas na área cambial e de provisões que foram detectados, apenas aponta na direção de projeções inadequadas ou não justificáveis que levaram ao recolhimento menor de tributos para o caixa federal. Mas a discrepância entre a receita esperada e a que efetivamente entrou no caixa disparou o alerta.

Segundo tributaristas, uma das controvérsias entre Receita e instituições financeiras está relacionada aos valores descontados no principal e nos juros em negociações com clientes que tomaram crédito e ficaram inadimplentes. As instituições defendem a dedução do total dos valores abatidos na renegociação como despesa do IR. A Receita tem interpretação mais restrita sobre a dedutibilidade de perdas efetivas no recebimento de créditos. Dependendo do crédito, a Receita exige que estejam vencidos há mais de um ano e a dedução é permitida desde que iniciados e mantidos procedimentos judiciais para o recebimento.

O pano de fundo da discussão, dizem os tributaristas, são normas diversas para tratamento dessas perdas entre a Receita e o Banco Central. Esse último, na regra geral, indica o provisionamento nos casos de créditos vencidos há mais de 60 dias, conforme critérios de classificação de risco.

O chefe do Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros da Receita, auditor-fiscal Claudemir Malaquias, afirmou em entrevista coletiva na última semana que o crescimento verificado no recolhimento de impostos sobre o lucro por instituições financeiras em setembro indicava uma mudança de comportamento de empresas após ações da Receita.

Segundo ele, foi verificado pelos auditores que a queda nos últimos meses ocorreu não apenas pela perspectiva de resultados menores dessas instituições neste ano – algo legal, pelas regras de arrecadação -, mas também possíveis irregularidades. “É uma combinação dos dois fatores [resultado das empresas e abordagens do Fisco]. Foram verificadas irregularidades”, resumiu, sem dar detalhes.

Fora do setor financeiro, a Receita deu especial atenção a operações de grandes contribuintes com empresas coligadas ou subsidiárias no exterior, tema que há muito chama atenção dos técnicos. A questão é que muitas vezes as empresas declaram despesas entre elas apenas com o intuito de reduzir a base de tributação, ainda que sem respaldo na real situação da companhia.

A Receita destaca que os trabalhos de fiscalização e diálogo com bancos e demais grandes empresas continuam. O esforço é estimular mecanismos de autorregularização antes da necessidade de se autuar e gerar multas e transtornos aos contribuintes. A autorregularização também é mais favorável ao governo porque gera recursos em momento no qual a política fiscal demanda incremento de receitas, enquanto o processo de autuação pode gerar longos contenciosos e adiamentos de pagamentos.