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7 medidas que você deve tomar antes de buscar crédito para a empresa

Quem se prepara antes de recorrer ao dinheiro de bancos, financeiras e factorings aumenta as chances de sair da reunião com a resposta positiva

Ouvir a palavra “sim” do gerente do banco ou do analista de crédito da financeira ou da factoring é um desafio na rotina do pequeno empresário que precisa tomar recursos de terceiros.

Sobretudo neste ano de aperto nos juros por causa da inflação alta e, ao mesmo tempo, de um quadro recessivo na economia, o que reduz a previsão de lucro das empresas. 

Isso tudo leva ao pessimismo, o que faz com que os bancos fiquem mais restritivos, ou seja, tenham cuidado redobrado na hora de liberar o crédito para o pequeno empresário. 

Até mesmo o crédito subsidiado pelo governo disponibilizado por bancos públicos corre o risco de mudar de perfil porque o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, já sinalizou que deve diminuir as despesas com os financiamentos a juros negativos. 

Assim, os empresários vão precisar parar para organizar a “própria casa” antes de pedir crédito. É importante lembrar que essa preparação leva tempo, assim como a resposta do agente financeiro. 

“Lembre-se que quanto mais rápido o dinheiro é liberado, maior pode ser o seu custo. Por isso é preciso planejar o crédito”, afirma Eduardo Shakir Carone, sócio-diretor e fundador da Nexto Investimentos.  

Com as instituições financeiras mais receosas com o risco das empresas quebrarem, o empreendedor precisará ter de pronto as informações que ajudem a diminuir os seus riscos de inadimplência. Principalmente se for um pequeno empresário.

As informações das empresas são avaliadas por uma ferramenta de análise de risco de crédito, o credit score, que é comercializado pela Boa Vista SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito) e por outras empresas do setor.

A avaliação ajuda o banco determinar a taxa de juros, a exigência de garantias e avais, os prazos e o limite do valor a emprestar. 

Em uma factoring o cuidado não é diferente. João Costa Pereira, presidente da Brasil Factors, diz que esse tipo de negócio é diferente do simples financiamento porque toma o risco de crédito dos clientes da empresa para quem libera recursos.

“Por isso fazemos uma avaliação detalhada dele. É melhor que seja transparente, tenha balanços auditados e demonstrações financeiras atualizadas”, diz. 

Para que uma empresa seja melhor avaliada, é preciso que o empresário se cerque de uma série de cuidados antes mesmo de buscar o financiamento. Especialistas listaram as sete atitudes que podem ajudar o empreendedor nessa jornada.  

 

Na hora da avaliação, a garantia sempre vem em primeiro lugar porque diz respeito à qualidade do crédito da empresa. Eduardo Shakir Carone, sócio-diretor e fundador da Nexto, explica que essa qualidade de crédito está relacionada ao setor da economia em que a empresa está. "Os bancos gostam de empresas que estão em setores de margens altas", diz. 

Outro ponto que define a garantia é o controle que o empresário tem de seu negócio, ou seja, de controles bem feitos, com projeção de fluxo de caixa de médio e de longo prazo. "Isso mostra que o empresário sabe o que vai acontecer no futuro”, afirma. 

Carone diz que uma empresa sem controle nenhum tem de dar de 250% a 200% do valor que pediu em empréstimo em garantia. Quem tem esse controle bem feito consegue reduzir essa proporção para 60%. 

Especialistas dizem que as garantias reais, como imóveis, são bem avaliadas por bancos, apesar de não serem líquidas (com possibilidade de resgate rápido sem perda do valor). 

“O empresário que precisa do crédito agora contando com as vendas que vai fazer no dia das mães terá de ter garantias e mais boletos, duplicatas e recebíveis de cartão de crédito. Os bancos estão exigindo cada vez mais e aumentando as tarifas”, diz Mauricio Galhardo, sócio-diretor da Praxis Business, consultoria que assessora empresas na avaliação de crédito. 

Ele diz que a exigência de mais garantias tem ocorrido mesmo com empresas com bom histórico de movimentação financeira na instituição. “O ambiente está hostil. O empresário busca R$ 500 mil e o banco libera só R$ 100 mil. No ano passado era possível encontrar taxa de 1,5% ao mês para capital de giro. Hoje não se vê por menos de 2%”, afirma. 

 

Nem é preciso dizer que a inadimplência com outro empréstimo tomado no mesmo banco vai “tirar pontos” na hora do empresário pedir um novo crédito. Esse fato pode fazer com que o banco decida conceder um limite menor do que o solicitado, exigir mais garantias ou estipular uma taxa de juros mais alta.

“Toda vez que o empreendedor voltar ao banco em que ficou inadimplente para buscar crédito, ele será cobrado da diferença que deixou de pagar”, diz João Carlos Natal, consultor do Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo).

Fernando Cosenza, diretor de sustentabilidade da Boa Vista SCPC, diz que a empresa inadimplente tem mais dificuldade de conseguir crédito do que a que não tem esse problema. “Para o banco, é sinal de que a gestão financeira da empresa não foi bem feita e de que sua saúde pode estar comprometida”, diz.

Muitas vezes, a inadimplência é o resultado de uma má gestão do capital de giro, ou seja, do desequilíbrio entre os prazos de recebimento de clientes e o de pagamento a fornecedores.
“Nesse intervalo, que pode ser curto, o empresário pode ficar sem pagar uma conta e ser negativado”, afirma. 

Segundo ele, isso pode derrubar o perfil de risco de uma empresa, especialmente de pequenas. O mesmo zelo que os empreendedores têm com as finanças da empresa devem ter com as pessoais.
 “Os bancos também pesquisam o CPF dos sócios na hora da avaliação. Se houver inadimplência, contará ponto negativo na avaliação. O banco entende que se algum dos sócios está com problemas financeiros isso pode contaminar as contas da pequena empresa”, afirma Cosenza.

 

Eduardo Shakir Carone, sócio-diretor e fundador da Nexto Investimentos, diz que o melhor para o empresário é ter relacionamento com bancos de grande porte, pois eles geralmente têm capacidade para emprestar dinheiro por um prazo longo a uma taxa menor.

Quanto mais longo for o tempo de relacionamento, melhor será para a empresa. Isso não significa, necessariamente, que o empreendedor deve concentrar toda a movimentação em um só banco.  
O ideal é que tenha pelo menos duas contas para atender clientes e fornecedores.  “Mas a tendência natural é que o banco no qual se movimenta mais dinheiro conceda mais crédito”, explica. 

Natal, do Sebrae-SP, lembra que o banco demora de seis meses a um ano para analisar a movimentação financeira média de uma empresa antes de começar a liberar linhas de crédito de forma automática. “O pequeno empresário, quando já tem o CNPJ, demora para abrir a conta-corrente da empresa porque acha que isso é uma despesa. Só que não é”, afirma. 

Hoje, o consultor diz que as linhas de crédito pré-aprovadas de bancos públicos já não estão sendo disponibilizadas tão rapidamente, o que exige paciência do empreendedor. 

 

A movimentação da conta corrente da empresa traz informações importantes para as instituições financeiras. Se o empreendedor efetua as vendas, mas não deposita na conta pessoa jurídica, surge a desconfiança de que pode estar sonegando impostos. 

“A suspeita de sonegação leva o banco a crer que essa empresa possa estar com problemas trabalhistas. Se ela quebra, o banco é o penúltimo a receber. Primeiro precisará pagar as obrigações trabalhistas, fiscais e fornecedores”, diz Carone da Nexto. 

As instituições não gostam que empreendedores misturem as contas, porque isso soa informal. “Quem vai dever ao banco é a empresa e se ela estiver formalizada, emitindo nota fiscal e cumprir obrigações fiscais e trabalhistas, melhor será o relacionamento com o banco. Quem ainda não está assim, pode fazer essa transição em dois ou três anos”, afirma Carone.

O consultor do Sebrae-SP lembra que o empresário deve determinar um pró-labore e separar bem isso, pagando as despesas pessoais na conta-corrente da pessoa física. 

 

Na hora de tomar crédito é importante que o empresário apresente o fluxo de caixa do que vai fazer com o recurso considerando três cenários (o melhor, o normal e o pior). É um jeito de dar segurança de outra forma ao banco.

“Ajuda a evoluir com a negociação, muitas vezes, sem precisar dar o aval na pessoa física e reduzir garantias”, diz Carone. 

Para fazer isso é preciso ter, de forma organizada, todas as entradas e saídas da empresa. 

“O que o banco vê na conta corrente tem peso igual ao da contabilidade. Quem tem tudo na mesma instituição tem essa facilidade”, diz. 

Natal, do Sebrae-SP, diz que é importante igualmente apresentar o balanço patrimonial, uma fotografia da empresa ao fim de um período – que tem mais credibilidade se for auditado – e o Demonstrativo do Resultado do Exercício (DRE), o filme da evolução das finanças da empresa ao longo do período.  

Galhardo, da Praxis Business, afirma que hoje isso é praticamente uma obrigação do empresário. “Com o cenário de aperto, a apresentação de balancete auditado deixou de ser um diferencial. Não dá para conversar sem esses documentos e o fluxo de caixa”, diz. 

 

Antes de procurar crédito, é necessário saber exatamente o quanto vai precisar num prazo mais longo, sem olhar apenas para o momento imediato.

“Calcule o que precisa para o capital de giro e mais as prestações em aberto de outro empréstimo (se houver). Com esse total, precisa olhar para o fluxo de caixa da empresa e determinar a capacidade de pagamento mensal. Não adianta o banco estipular que serão dez prestações de R$ 4 mil. O empreendedor precisa saber, antes, se pode pagá-las”, diz Natal, do Sebrae-SP.

Com essas informações, diz o consultor, é possível sentar para negociar as condições do crédito, em busca da melhor taxa. 

 

Natal, do Sebrae-SP, diz que o empreendedor deve prestar atenção ao gerente do banco, pois pequenas coisas, como o fato de ele já ter batido a meta do mês, influenciam o atendimento. 

“Às vezes basta visitar outra agência do mesmo banco e verificar se a condição do gerente de lá é a mesma. Ele pode não ter fechado a meta de vendas e crédito e pegar o empreendedor no colo. Isso envolve pesquisa e conversa”, diz o consultor. 

Pereira, da Brasil Factors, diz que o empresário que recorre a uma factoring deve prestar muita atenção ao que está no contrato. Ele diz que a procura pelo serviço aumentou 20% por causa da elevação de juros no crédito pelos bancos. 

Além da taxa de juros da factoring – hoje em torno de 4% ao mês – há a cobrança de comissões administrativas. “É importante contratar todas as comissões de serviços que utilizará antes de iniciar o processo para não haver surpresas. Exemplos são as de registro, de assinatura de contrato, de emissão de boleto. São valores que, somados, podem assustar o empreendedor”, afirma.